Palestras e discussões vão explora as temáticas relativas a condição do negro na sociedade brasileira
A Prefeitura de Cabedelo, por meio da Secretaria Municipal de Educação (Seduc) realizou, nesta quarta-feira (17), no auditório da Secretaria, a solenidade de abertura da Semana da Conscientização Negra. O evento, organizado pela Coordenação Cordel na Escola e Diversidade Étnico-racial e de Gênero, do Setor de Projetos Especiais (SPE), faz parte das comemorações ao Dia Nacional da Consciência Negra – 20 de novembro, na rede de ensino municipal.
A Semana vai por em discussão temáticas relacionadas à condição da população negra no Brasil, o racismo estrutural, as ações afirmativas e as bases para a aplicação de uma educação antirracista. A iniciativa tem como principal objetivo informar, formar e debater sobre a importância da convivência na diversidade social brasileira.
“Vivemos em um país racista e é preciso reconhecer esse fato para podermos estabelecer bases de enfrentamento à problemática. Nesse cenário, a educação tem um papel importantíssimo no chamamento das discussões, no construção de formas de abordagem e na implantação de estratégias de educação antirracista. No mês em que se comemora a consciência negra, portanto, é preciso discutir, valorizar a cultura e a presença negra na história e no cotidiano; e instruir as nossas crianças para termos um mundo melhor, mais tolerante e inclusivo”, comentou o secretário adjunto da educação, Jordan Dornelas.
Na abertura da Semana, a temática do Racismo Estrutural foi explorada na palestra do professor Thiago Brandão da Silva, pesquisador do Núcleo de Estudos e Pesquisas Afrobrasileiros e Indígenas da UFPB. O evento foi voltado para professores de História, Educação Artística e Ensino Religioso.
“Diante do público de professores viemos explorar um pouco sobre o Dia da Consciência Negra, do porquê falarmos de uma consciência negra e, de certo modo, dissertar sobre o conceito de raça, que é um conceito também político. É preciso entender a ideia do racismo através do conceito de raça no sentido subjetivo, no sentido das instituições, e de como o racismo estrutural vem a ser tão arraigado em nossa sociedade pós-escravidão. A ideia do racismo não é importante apenas para a população negra; é importante para todos brasileiros, pois ela estrutura a nossa sociedade. Professores, educadores e fomentadores de opinião têm que dominar esse conhecimento, sobretudo por trabalharem com jovens que são os construtores do futuro”, comentou Thiago Brandão.
A programação da Semana contará com dois eventos online. No dia 18, às 19h30, será discutido, o tema “Novembro Negro: Ações afirmativas e negritude”, com a arqueóloga Ana Dindara; e no dia 19, no mesmo horário, a mestranda em Estudos Culturais na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), Laila Domingos, vai debater a temática “Reflexões para uma educação antirracista”. As sessões poderão ser acessadas pelo link: https://meet.google.com/pky-tzoi-tgo.
“A importância de discutir a temática Consciência Negra é o fortalecimento da luta da população negra contra o racismo, contra a cultura patriarcal, contra o colonialismo, enfim. Cabe aos educadores o grande papel de se unirem para dar uma parcela de contribuição para desconstruir essa chaga que existe no tecido social. É uma luta difícil, o racismo é estrutural e nossa luta é permanente para que possamos atingir uma sociedade mais justa e igualitária”, declarou a coordenadora da Diversidade Etnico-racial e de Gênero, Ivonete Coriolano.
Ação afirmativa – Visando incluir todos os segmentos de ensino na educação sobre as questões relativas à negritude, a educação de Cabedelo implantou recentemente o projeto Bonecas Negras, Creches Coloridas, no ensino infantil. O projeto piloto foi lançado no mês de agosto na Creche Alexia Luana dos Santos e tem por objetivo desenvolver uma cultura antirrascista a partir da educação infantil na rede municipal do município.
“O projeto é resultado da minha inquietação pela ausência de um trabalho específico com relação ao negro, direcionado à educação infantil. Observamos a invisibilidade das crianças negras, pela ausência da representatividade, seja na publicidade, nas brinquedotecas das creches, nas seções dos brinquedos nas lojas e assim por diante. Sabemos que essa situação pode influenciar na autoestima e contribuir na reprodução do racismo. Pensei, portanto, numa ação capaz de valorizar a beleza das crianças negras, por meio da disponibilização no interior das creches de brinquedos que representam seus fenótipos, brincadeiras e valorizem seu povo”, explicou a professora Ivonete Coriolano.
Além de focar a educação antirracista, o projeto também visa o empreendedorismo junto às educadoras, mães ou responsáveis pelas crianças das creches. Para esse fim, a idealizadora do projeto realiza oficinas de bonecas de pano.
Consciência – Novembro vem, há décadas, sendo considerado como o Mês da Consciência Negra. Trata-se de um momento da vida nacional em que são pautadas, em vários setores e instituições, reflexões acerca da formação social brasileira e as relações de poder que põe à margem uma parcela da população, em situação de vulnerabilidade e insegurança.
O período é marcado fortemente pelo incentivo à reflexão sobre a condição do negro na sociedade, celebração da cultura, bem como a lembrança das lutas e da militância em torno da causa negra no pais. É também um mês de planejamento para definir estratégias de combate ao racismo estrutural e a construção de políticas antirracistas nas instituições públicas e privadas do país, propondo ações que instituam políticas de reconhecimento, reparação e valorização da população negra.
O Dia Nacional da Consciência Negra, 20 de novembro, relembra a morte de Zumbi dos Palmares, último líder do quilombo dos Palmares, assassinado em 1695.